A coragem para ousar
Há alguns anos atrás, em um congresso sobre Contra-Cultura e Cultura Marginal, eu e MArcel R. Goto (ex EGM e Gamers e ex editor da Anime>Do2000) conversávamos antes de darmos nossas respectivas palestras sobre o paradoxo japonês...
O povo da terra do sushi é naturalmente avesso á ousadia, á chamar a atenção. Mesmo nas ruas de Harakujo, onde pseudo-punks de cabelos verde limão desfilam ao lado de japoneses mais pretas que a Vera Verão, a ousadia é dosada pela mídia, pela tendência e pela necessidade de se encaixar a algum grupo. O choque visual inicial é diluido quando se percebe que cada um dos visuais bizarros faz "par" com dezenas de outros jovens de igual estilo. O japonês é, em sua média, submisso ao sistema. Seja ele cultural, mediático ou simplesmente econômico. Os mesmos jovens do cabelo verde limão, usarão terninhos de corte sisudo e andarão de cabeça baixa nos metrôs quando terminarem a faculdade...
Aí você me pergunta: O QUE DIABOS ISTO TEM HAVER COM ETERNAL SONATA?!
Paciência pequeno gafanhoto!
Falava sobre o paradoxo japonês... Pois bem, um povo tão atado ao tradicionalismo consegue a façanha de quebrar paradigmas na cultura POP. Á 30 anos atrás não se cogitava escrever histórias em quadrinhos que se afastasse do gênero de "supers" aqui no ocidente. No Japão Sanjo Mitsuki já desenhava uma série dramática sobre as desventuras de um executivo frustrado que entrava em um mundo surrealista quando enchia a cara de saquê...
Talvez pela sociedade sensivelmente (e discretamente) opressiva, os japoneses desenvolveram uma sensacional ousadia para seus produtos de cultura POP como um escape. Temos jogos sobre mosquitos, sistemas de metrô, lixeiros, advogados médicos... Há um sem número de jogos, mangás, séries, filmes, livros e animes com temas bizarros e que parecem ter pouquíssimo apelo comercial.
A beleza da tal "ousadia" japonesa, é conseguir revestir seus temas bizarros em produtos extremamente acessiveis. A narrativa de um mangá sobre Go (um jogo semelhante, porém muita mais complexo, ao xadrez) é muito parecida com a de Dragon Ball Z por exemplo!
O ponto que quero chegar é o seguinte: O que te vem a cabeça quando te falam de "música erudita" e "Chopin"?
Sério, parem por alguns minutos, fechem os olhos... O que vocês pensam ao ouvirem estes nomes?
Eu posso garantir que não será um jogo de RPG tipicamente japonês de visual "cute", direção de arte onírica e jogabilidade extremamente acessível e divertida.
Aí está a diversão de Eternal Sonata! È mais um produto das corajosas mentes japonesas! Uma tentativa extremamente feliz de trazer um pouco da obra de um dos maiores pianistas da história para um público que se interessa tanto por música erudita quanto o Capitão nascimento por Direitos Humanos.
Eu queria sonhar assim!
Se você é como eu, alguém extremamente aberto a diversas correntes estéticas, não demorará mais que alguns minutos para voce se encantar com o estilo grafico do Eternal Sonata.
Os visuais são muito coloridos, mas o uso das matizes é harmônico e extremamente simpático. A ideia foi realmente pintar um mundo meio infantil com os dois pés fincados nos sonhos e na fantasia. Como o jogo se passa no sonho de Chopin não é difícil entender a escolha dos diretores. Especialmente quando nos lembramos que Chopin vivia como exilado em uma realidade de guerras que definitivamente era mais cinza do que o mundo visualmente alegre. O game é a fuga do compositor. Genial.
Os personagens seguem essa mesma filosofia. São extremamente "bonitinhos". Todos em cel-shaded, Eternal tem modelos que se aproximam maravilhosamente de modelos 2D ou personagens de anime, visuais que não fazem grande uso do poder do Xbox 360 mas que cumprem com excelência seu trabalho, não há bugs nem glitches gráficos durante toda a jogatina.
As escolhas dos produtores são polêmicas, mas muito acertadas. A dor do mundo de Chopin foi traduzida em um mundo reconfortante e bucólico. Lembra quando eu falava de paradoxos no começo do review?
Onde está o Chopin!?!
Quando levamos em conta que é um game sobre um dos maiores músicos de todos os tempos criamos a expectativa de um produto com trilha sonora primorosa.
Infelizmente isto ocorre com Eternal Sonata apenas de forma parcial.
Explico: O game possui SIM uma bela trilha de áudio. Infelizmente ela é muito pequena e pouco presente. Em 90% das cutscenes vc terá como companhia o mais absoluto silêncio. Nada além dos efeitos sonoros ou as vozes dos personagens.
A ideia foi mesmo do "menos é mais". O problema é que não queremos ver um filme do Bergman ou do Antonioni. Queremos um game e esperamos uma trilha sonora mais presente, guiando a história enquanto á jogamos e assistimos. Também pesa o fato de que não temos muitas musicas de Chopin além daquelas tocadas nos "mini documentários" entre os capítulos do game.
Excetuando-se este detalhe, o game possui boas músicas e uma excepcional dublagem. você pode escolher as vozes japonesas ou americanas e só isto já garante uns pontinhos comigo. Consideração ao público é sempre admirável!
Luz, trevas e botões esmagados!
A jogabilidade do game é muito balanceada. As dungeons são simples e raramente você ficará sem saber o que fazer. Os menus são facilmente navegáveis e a customização é simples e intuitiva.
Os inimigos ficam no mapa, alguns são hostis e correrão em sua direção quando te ver, mas a grande maioria só te atacará se voce tocar neles. Ao tocá-los voce é levado a um campo de batalha (típico nos rpgs japas). O sistema é em turno, mas diferente do sistema estático mais comum. Aqui vc terá uma barra de tempo e neste interino você pode se movimentar e esmagar o botão de ataque ou de especial. Os especiais são ilimitados, mas usá-los indefinidamente não é muito sábio. Tais movimentos ficam mais fortes a medida que enche um medidor de "eco. Enquanto mais você bate no seu adversário com golpes simples mais esta barra enche e quanto maior, mais poderoso será o ataque especial. O procedimento normalmente é: Personagem 'X' dá varios golpes simples e enche a barra substancialmente para que 'Y' dê mais algumas bordoadas e finalize com um especial nas fuças do adversário.
As batalhas usam também um inventivo sistema de luz e escuridão. Cada campo tem pontos de sombra e luz. Seus personagens tem golpes especificos na sombra e na luz. Os inimigos tambêm reagem ao lugar em qual se submetem. Alguns bichos são inofensivos na luz, mas ao dar um passo e penetrarem em um espaço sombreado se tornam gigantescos e ameaçadores. Para nossa tristeza o sistema não dá tanta margem a estratégias como o esperado, 99% dos inimigos são facilmente espancados estejam nas trevas ou sob o sol... Além disso seus golpes de luz e sombra costumam funcionar muito bem em quase toda situação, tornando o game bastante fácil durante todo o tempo de jogatina.
O game dura umas 25 horas e o sistema de conquistas é injusto e desbalanceado para te forçar a estender a experiência. Ao terminar o game você terá q jogá-lo novamente para catar partituras que te garantirão alguns pontinhos.... Ou seja, depois de 20 horas o game irá para sua gaveta pois não há NADA além de pontos de GS para te motivarem a voltar aqui.
Conclusão
Eternal Sonata é mais uma simpática investida japonesa no campo da inventividade bizarra.
Revestir uma homenagem a um grande musico de um RPG simples e cheios de clichês é uma idéia sensacional e foi muito bem executada. A beleza visual é inegável mas falta polimento em muitas áreas. A história poderia ser melhor, o sistema de batalhas é formado por um conceito genial mas a execução foi simplória e a trilha sonora tinha a obrigação de ser sensacional para honrar o seu homenageado.
Pesando-se o bom e o ruim, Eternal é uma experiência gostosa e muito simples que vai agradar os fãs dos "RPGS" japoneses mas não conquistará aqueles que não gostam do gênero!
PRÓS & CONTRAS
+ Conceitualmente brilhante!
+ Direção artística inacreditável
+ Gráficos tecnicamente eficientes.
+ História simpática...
- Muitos momentos de silêncio nas cutscenes
- Personagens sem carisma e sem história
- Sistema de conquistas mal usado
- O pouco tempo de jogo somado á inexistência de replay chateia
- O sistema de combate baseado em um ótimo conceito foi jogado fora pela escolha por simplicidade excessiva.
Fonte
www.gamevicio.com.br
Há alguns anos atrás, em um congresso sobre Contra-Cultura e Cultura Marginal, eu e MArcel R. Goto (ex EGM e Gamers e ex editor da Anime>Do2000) conversávamos antes de darmos nossas respectivas palestras sobre o paradoxo japonês...
O povo da terra do sushi é naturalmente avesso á ousadia, á chamar a atenção. Mesmo nas ruas de Harakujo, onde pseudo-punks de cabelos verde limão desfilam ao lado de japoneses mais pretas que a Vera Verão, a ousadia é dosada pela mídia, pela tendência e pela necessidade de se encaixar a algum grupo. O choque visual inicial é diluido quando se percebe que cada um dos visuais bizarros faz "par" com dezenas de outros jovens de igual estilo. O japonês é, em sua média, submisso ao sistema. Seja ele cultural, mediático ou simplesmente econômico. Os mesmos jovens do cabelo verde limão, usarão terninhos de corte sisudo e andarão de cabeça baixa nos metrôs quando terminarem a faculdade...
Aí você me pergunta: O QUE DIABOS ISTO TEM HAVER COM ETERNAL SONATA?!
Paciência pequeno gafanhoto!
Falava sobre o paradoxo japonês... Pois bem, um povo tão atado ao tradicionalismo consegue a façanha de quebrar paradigmas na cultura POP. Á 30 anos atrás não se cogitava escrever histórias em quadrinhos que se afastasse do gênero de "supers" aqui no ocidente. No Japão Sanjo Mitsuki já desenhava uma série dramática sobre as desventuras de um executivo frustrado que entrava em um mundo surrealista quando enchia a cara de saquê...
Talvez pela sociedade sensivelmente (e discretamente) opressiva, os japoneses desenvolveram uma sensacional ousadia para seus produtos de cultura POP como um escape. Temos jogos sobre mosquitos, sistemas de metrô, lixeiros, advogados médicos... Há um sem número de jogos, mangás, séries, filmes, livros e animes com temas bizarros e que parecem ter pouquíssimo apelo comercial.
A beleza da tal "ousadia" japonesa, é conseguir revestir seus temas bizarros em produtos extremamente acessiveis. A narrativa de um mangá sobre Go (um jogo semelhante, porém muita mais complexo, ao xadrez) é muito parecida com a de Dragon Ball Z por exemplo!
O ponto que quero chegar é o seguinte: O que te vem a cabeça quando te falam de "música erudita" e "Chopin"?
Sério, parem por alguns minutos, fechem os olhos... O que vocês pensam ao ouvirem estes nomes?
Eu posso garantir que não será um jogo de RPG tipicamente japonês de visual "cute", direção de arte onírica e jogabilidade extremamente acessível e divertida.
Aí está a diversão de Eternal Sonata! È mais um produto das corajosas mentes japonesas! Uma tentativa extremamente feliz de trazer um pouco da obra de um dos maiores pianistas da história para um público que se interessa tanto por música erudita quanto o Capitão nascimento por Direitos Humanos.
Eu queria sonhar assim!
Se você é como eu, alguém extremamente aberto a diversas correntes estéticas, não demorará mais que alguns minutos para voce se encantar com o estilo grafico do Eternal Sonata.
Os visuais são muito coloridos, mas o uso das matizes é harmônico e extremamente simpático. A ideia foi realmente pintar um mundo meio infantil com os dois pés fincados nos sonhos e na fantasia. Como o jogo se passa no sonho de Chopin não é difícil entender a escolha dos diretores. Especialmente quando nos lembramos que Chopin vivia como exilado em uma realidade de guerras que definitivamente era mais cinza do que o mundo visualmente alegre. O game é a fuga do compositor. Genial.
Os personagens seguem essa mesma filosofia. São extremamente "bonitinhos". Todos em cel-shaded, Eternal tem modelos que se aproximam maravilhosamente de modelos 2D ou personagens de anime, visuais que não fazem grande uso do poder do Xbox 360 mas que cumprem com excelência seu trabalho, não há bugs nem glitches gráficos durante toda a jogatina.
As escolhas dos produtores são polêmicas, mas muito acertadas. A dor do mundo de Chopin foi traduzida em um mundo reconfortante e bucólico. Lembra quando eu falava de paradoxos no começo do review?
Onde está o Chopin!?!
Quando levamos em conta que é um game sobre um dos maiores músicos de todos os tempos criamos a expectativa de um produto com trilha sonora primorosa.
Infelizmente isto ocorre com Eternal Sonata apenas de forma parcial.
Explico: O game possui SIM uma bela trilha de áudio. Infelizmente ela é muito pequena e pouco presente. Em 90% das cutscenes vc terá como companhia o mais absoluto silêncio. Nada além dos efeitos sonoros ou as vozes dos personagens.
A ideia foi mesmo do "menos é mais". O problema é que não queremos ver um filme do Bergman ou do Antonioni. Queremos um game e esperamos uma trilha sonora mais presente, guiando a história enquanto á jogamos e assistimos. Também pesa o fato de que não temos muitas musicas de Chopin além daquelas tocadas nos "mini documentários" entre os capítulos do game.
Excetuando-se este detalhe, o game possui boas músicas e uma excepcional dublagem. você pode escolher as vozes japonesas ou americanas e só isto já garante uns pontinhos comigo. Consideração ao público é sempre admirável!
Luz, trevas e botões esmagados!
A jogabilidade do game é muito balanceada. As dungeons são simples e raramente você ficará sem saber o que fazer. Os menus são facilmente navegáveis e a customização é simples e intuitiva.
Os inimigos ficam no mapa, alguns são hostis e correrão em sua direção quando te ver, mas a grande maioria só te atacará se voce tocar neles. Ao tocá-los voce é levado a um campo de batalha (típico nos rpgs japas). O sistema é em turno, mas diferente do sistema estático mais comum. Aqui vc terá uma barra de tempo e neste interino você pode se movimentar e esmagar o botão de ataque ou de especial. Os especiais são ilimitados, mas usá-los indefinidamente não é muito sábio. Tais movimentos ficam mais fortes a medida que enche um medidor de "eco. Enquanto mais você bate no seu adversário com golpes simples mais esta barra enche e quanto maior, mais poderoso será o ataque especial. O procedimento normalmente é: Personagem 'X' dá varios golpes simples e enche a barra substancialmente para que 'Y' dê mais algumas bordoadas e finalize com um especial nas fuças do adversário.
As batalhas usam também um inventivo sistema de luz e escuridão. Cada campo tem pontos de sombra e luz. Seus personagens tem golpes especificos na sombra e na luz. Os inimigos tambêm reagem ao lugar em qual se submetem. Alguns bichos são inofensivos na luz, mas ao dar um passo e penetrarem em um espaço sombreado se tornam gigantescos e ameaçadores. Para nossa tristeza o sistema não dá tanta margem a estratégias como o esperado, 99% dos inimigos são facilmente espancados estejam nas trevas ou sob o sol... Além disso seus golpes de luz e sombra costumam funcionar muito bem em quase toda situação, tornando o game bastante fácil durante todo o tempo de jogatina.
O game dura umas 25 horas e o sistema de conquistas é injusto e desbalanceado para te forçar a estender a experiência. Ao terminar o game você terá q jogá-lo novamente para catar partituras que te garantirão alguns pontinhos.... Ou seja, depois de 20 horas o game irá para sua gaveta pois não há NADA além de pontos de GS para te motivarem a voltar aqui.
Conclusão
Eternal Sonata é mais uma simpática investida japonesa no campo da inventividade bizarra.
Revestir uma homenagem a um grande musico de um RPG simples e cheios de clichês é uma idéia sensacional e foi muito bem executada. A beleza visual é inegável mas falta polimento em muitas áreas. A história poderia ser melhor, o sistema de batalhas é formado por um conceito genial mas a execução foi simplória e a trilha sonora tinha a obrigação de ser sensacional para honrar o seu homenageado.
Pesando-se o bom e o ruim, Eternal é uma experiência gostosa e muito simples que vai agradar os fãs dos "RPGS" japoneses mas não conquistará aqueles que não gostam do gênero!
PRÓS & CONTRAS
+ Conceitualmente brilhante!
+ Direção artística inacreditável
+ Gráficos tecnicamente eficientes.
+ História simpática...
- Muitos momentos de silêncio nas cutscenes
- Personagens sem carisma e sem história
- Sistema de conquistas mal usado
- O pouco tempo de jogo somado á inexistência de replay chateia
- O sistema de combate baseado em um ótimo conceito foi jogado fora pela escolha por simplicidade excessiva.
Fonte
www.gamevicio.com.br
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